Nesta quinta-feira, vou à Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, rever uma amiga que não vejo há 20 anos. A procopense Cláudia Trevisan (foto acima)promove o lançamento de seu novo livro, “Os Chineses”.
Abaixo um texto do blog O Tao da China, de Cláudia Trevisan e o convite.
Ganbei!
por Cláudia Trevisan
Beber sem limites é parte do ritual dos encontros políticos e de negócios da China e já ouvi vários executivos brasileiros relatarem as dificuldades de encarar banquetes regados a inúmeros brindes de “baijiu” (pronuncia-se "baidiou"), a aguardente local. Os laços de confiança com integrantes do governo e empresários se formam nessas bebedeiras, marcadas pelos gritos de “ganbei”, a versão chinesa de “saúde”, que significa “esvazie o copo”. A bebida deve ser tomada de um só gole e o copo vazio deve ser mostrado aos demais.
O hábito é extremamente arraigado na cultura chinesa e também permeia as relações de amizade. Amigo que é amigo fica bêbado junto, até cair. No caso dos encontros políticos e de negócios, alguém que seja “fraco” para a bebida pode nomear um representante para beber em seu lugar, mas só depois de alguns “ganbeis”. Por isso, muitos executivos selecionam assistentes resistentes à bebida para acompanhá-los nos almoços e jantares de negócios.
Mas beber alguns copos é obrigatório para os homens, que são vistos com certo desprezo se recusam um ganbei, a menos que tenham uma justificativa muito convincente. Às mulheres é permitida a abstinência ou brinde com bebidas mais suaves, como a cerveja.
Apesar de generalizado, o hábito começa a despertar a preocupação do governo, pelo efeito devastador que pode ter sobre a saúde de funcionários públicos. Hoje, a agência de notícias do governo (Xinhua) publicou reportagem sobre um servidor que morreu e outro que entrou em coma depois de bebedeiras homéricas em encontros oficiais.
O diretor do Departamento de Águas da cidade de Wuhan, Jin Guoqing, morreu na semana passada de ataque cardíaco depois de vários ganbeis com um grupo que visitava a cidade. Também na semana passada, Lu Yanpeng, chefe de um distrito da província de Guangdong, entrou em coma depois de beber excessivamente em um jantar com uma autoridade do Partido Comunista.
Os banquetes chineses são elaboradíssimos, com uma sucessão de pratos e inúmeros brindes. De acordo com a Xinhua, o poder público gasta por ano o equivalente a US$ 73 bilhões em banquetes! Qualquer visita oficial ou de negócios de um estrangeiro à mais insignificante cidade chinesa é coroada por um banquete, ao qual comparecerão inúmeros pessoas sem qualquer relação com o tema que motivou o encontro. Para muitos burocratas, essa é a única chance de se esbaldar em uma orgia etílico-gastronômica.
Para os estrangeiros não acostumados a beber tanto, o hábito pode ser um problema. Há poucos dias, o executivo de uma multinacional me contou que saiu carregado depois de um jantar com autoridades de uma província chinesa. Outro me disse ter recebido telefone de um potencial cliente com um desafio: “quanto você pode beber antes de cair?”. Os dois se encontrariam em um jantar no dia seguinte.
Será que é caso para pagamento de um adicional de insalubridade etílico?
Aproveito o espaço do blog para convidar a todos para um "ganbei" no lançamento de meu novo livro, “Os Chineses”. O evento etílico-cultural será no dia 30 de julho, a partir das 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.