domingo, 11 de dezembro de 2011

King Company, de Rio Preto, estreia espetáculo Kabukiza





Francine Moreno           

Existem vários estilos de Kabuki (teatro japonês), mas os sinais mais característicos são os movimentos exagerados e poses intensas. O realismo não faz parte das intenções e o que importa são a expressões corporais. Mergulhada neste universo, a Cia. King Company, de Rio Preto, criou “Kabukiza”, espetáculo que estreou ontem,  no Teatro do Sesc Rio Preto.

Com 40 minutos de duração, a peça marca a estreia da companhia. No entanto, seu diretor, Gerrah Tenfuss, e o elenco formado por Pedro Gabriel Torres e Ronaldo Celeguini, são experientes e conhecidos pelo público rio-pretense. “Kabukiza” é um espetáculo metalinguístico e demonstra o que é o Kabuki. Em cena, todos os movimentos são originários do teatro japonês.

A montagem busca explicar as diferenças culturais e raciais. “O espetáculo faz uma metáfora sobre o próprio teatro e os rumos do teatro contemporâneo”, afirma Tenfuss. Segundo ele, o espetáculo possui uma linguagem pós-dramática. “Prioriza a didática e possui uma dramaturgia inusitada, muito diferente do convencional. Tem bom humor e flerta com jargões da cultura pop e cinematográfica, e delineia as técnicas essenciais do teatro oriental.”

“Kabukiza” rompe com o conceito de personagem. “O pós-dramático se aproxima da performance, ou seja, os atores são eles mesmos em uma situação estética”. Pedro Gabriel Torres é quem conduz a linha do espetáculo e demonstra as técnicas do Kabuki. Ronaldo Celeguini fica responsável pela trilha sonora ao vivo, e também dá apoio às demonstrações de Torres.

Esteticamente, “Kabukiza” rompe também com a cenografia clássica. “Privilegia o espaço vazio, o silêncio e a escuridão radical”, afirma Tenfuss. Ele diz que o texto foi composto pelos atores. “É a primeira vez que trabalhamos assim, gerando uma dramaturgia própria e radical.” Tenfuss conta que o convite para fazer “Kabukiza” foi feito pelo ator Pedro Gabriel Torres. “Sempre foi um desejo dele trabalhar com aspectos desta arte japonesa, o Kabuki.

O convite veio porque tenho uma relação com o oriente, por ter estudado por muito tempo o butoh”, afirma. Tenfuss mergulhou nas estéticas do butoh (uma outra dança japonesa) e na relação com objetos na performance-instalação “Mel”. O processo de criação de “Kabukiza” começou há cerca de dois anos, quando os integrantes começaram a discutir e experimentar possibilidades. Mas se efetivou de fato nos últimos cinco meses.

Tenfuss afirma que a experiência de dirigir e atuar são completamentes diferentes. “O palco é o lugar do ator. A direção é um trabalho que antecede, que estabelece as bases pelas quais o espetáculo percorre, os trilhos”, afirma. Para ele, que já havia dirigido seus próprios monólogos, é uma experiência única. “Estou dirigindo um duo e não estou em cena, portanto, a relação é outra”. Tenfuss trabalhou também numa espécie de consultoria dramatúrgica e estética do espetáculo.

“Kabukiza” já foi encenado no Sesc como uma cena curta, uma esquete. A apresentação aconteceu dentro da mostra Curta Teatro, em agosto deste ano. “Naquele evento, era uma espécie de experimentação da dramaturgia. Mas agora é a estreia oficial, o espetáculo completo, mais aprofundado.” Juliana Calligaris, que foi debatedora do Curta Teatro, escreveu na época uma crítica sobre o que viu.

“O espetáculo apresenta o Kabuki como se fosse um documentário em inglês (que é a atual língua universal), sobre as técnicas deste tipo específico de linguagem teatral, metamorfoseia, transpõe o limite do cultural e nos apresenta de forma natural, didática e mastigada antropofagicamente as linhas do gestos e das forças ideológicas e sentimentais envergadas pelos tipos de personagem deste tipo de espetáculo.”

O título da peça é uma homenagem ao lendário Teatro Kabukiza, no bairro de Ginza, em Tóquio, que foi demolido no ano passado. A destruição da casa foi um choque para os japoneses.

Ficha técnica
Concepção / Texto / Performance: Pedro Gabriel Torres
Direção: Gerrah Tenfuss
Figurinos e adereços : King Company
Concepção e operação de luz: Gerrah Tenfuss
Fotografia: Jorge Etecheber e Marcelo Araújo
Design gráfico: Deise Goulart

Fonte: Diário da Região