terça-feira, 7 de junho de 2011

A Swift é da Cultura - 2


Tombamento da Swift
 
Ruy Sampaio

A comunidade de Rio Preto, em especial os setores ligados à Cultura, comemoram mais uma vitória. A Swift finalmente está tombada como patrimônio histórico. A luta de um grupo de “visionários culturais”, iniciada há mais de 20 anos, vence sua penúltima etapa. A idéia daqueles “visionários” do início da década de 80 veio ao encontro do desejo desta administração, que se empenhou e conseguiu tirar do papel um projeto de anos dos rio-pretenses. Reconhecida pelo governo do Estado de São Paulo como patrimônio cultural de todos os paulistas, acreditamos que a partir de agora o sonho da comunidade de Rio Preto de transformar a Swift na Universidade Livre das Artes será facilitado. E contará com o apoio, inclusive financeiro, do governo do Estado.

É preciso ação, é preciso investimento. Tranqüilizou-nos as declarações do presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), José Roberto Melhem, contidas no ofício enviado ao prefeito Edinho Araújo. O tombamento, segundo ele, “não se trata de uma ação congeladora do bem, mas sim o reconhecimento de sua importância para a construção da identidade de nossa sociedade e manutenção de sua memória”. Melhem também assumiu o compromisso da realização de um trabalho conjunto com a Prefeitura.

Nossa antiga fábrica, localizada à margem do rio Preto, manterá seu papel transformador ante o seu tombamento. Inaugurada em 1944, processou a arte de transformar o caroço do algodão em óleo. Neste início de século 21, assume a incumbência de transformar pessoas em artistas, matéria-prima em arte.

A Swift está pronta para abrigar a Universidade Livre das Artes. Livre das eventuais investidas de um sórdido capital, com finalidade meramente especulativa e oportunista, que por uma, duas, dez vezes tentou descaracterizá-la deste seu aspecto sócio-cultural em benefício do lucro individual ou corporativo. A atual gestão do prefeito Edinho Araújo, sintonizada com o desejo da comunidade, ora por meio da Secretaria Municipal de Cultura (mas reconhecendo antes gestores como Adail Vetorazzo, Manoel Antunes ou entidades como o Comdephact e a Amirp), anunciou em 2001 a criação da Universidade Livre das Artes. Entidade cuja dinâmica encontra premissa na própria lei do tombamento, já que proíbe qualquer descaracterização da referida área.

O primeiro passo para a instalação da Universidade Livre das Artes foi dado em 2001 com a contratação da Cavalari Engenharia e Topografia, que se responsabilizou pelo desenvolvimento criterioso das plantas do imóvel e levantamento planialtimétrico. Depois, veio a Delphos Serviços Técnicos, que no primeiro semestre deste ano realizou um trabalho de avaliação hidráulica, elétrica e estrutural do complexo. E concedeu à Prefeitura, em outras palavras, satisfatório diagnóstico: a Swift é uma fortaleza em sua estrutura e construção.

Pequenos desajustes, provocados pelo tempo, foram sanados: descupinização, conserto de uma ou outra madeira ou telha, limpeza, enfim. Agora, nossa velha Swift está pronta para encarar o novo desafio, o de sua transformação definitiva em Universidade Livre das Artes, última etapa da luta iniciada há 20 anos. Os primeiros passos neste sentido já estão sendo dados, com espetáculos, festivais, espaço para produções culturais, experimentalismo, workshops, seminários, aulas, etc. E de maneira tão bem sucedida que, de repente, nossa fábrica foi parar em toda a mídia nacional e internacional, por ocasião da terceira edição do Festival Internacional de Teatro, no mês passado.

No próximo dia 26, as primeiras definições para uma parceria com a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) começam a ganhar forma. Tombada e transformada em Universidade Livre das Artes, nossa Swift se credencia ainda mais para receber o que há de vanguarda, inovação em nível de intervenção artística.
Diário da Região - 23/8/2003