segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Kassab busca brecha para levar ao PMDB deputados eleitos pelo DEM


DEM aposta no deputado de Rio Preto, Rodrigo Garcia, para suceder o prefeito Gilberto Kassab

Autor(es): Ana Paula Grabois | De São Paulo
Valor Econômico - 22/11/2010

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), já prepara terreno para migrar ao PMDB. Mesmo sem a fusão desejada de seu partido com o PMDB, questão descartada pela direção do DEM, Kassab aposta na mudança da legislação da fidelidade partidária para levar junto os seis deputados federais de São Paulo eleitos em pelo DEM em 2010.

A ideia é incluir uma brecha à fidelidade partidária dentro da reforma política que se pretende fazer já no ano que vem. De acordo com a atual legislação, os candidatos eleitos que mudarem de partido perdem o mandato para os partidos pelos quais se candidataram. "É um tema que pode passar dentro de uma reforma maior, com outros assuntos", diz o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Cunha vislumbra espaço político no Congresso para votar a reforma política logo. "Não tenho dúvida que o Congresso vai votar. Teríamos que votar até setembro de 2011", disse. Entre os temas que deveriam ser incluídos na reforma, o deputado federal destaca a aprovação do financiamento público de campanha e a votação a cargos proporcionais por lista partidária.

Cunha é um entusiasta da entrada do prefeito de São Paulo ao PMDB. "Kassab é muito bem-vindo. O PMDB precisa de uma liderança em São Paulo", afirmou Cunha. Sob a liderança do ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, o PMDB paulista elegeu apenas um deputado federal nestas eleições. Quércia está com problemas de saúde e chegou a desistir da corrida ao Senado durante a campanha para iniciar tratamento contra um câncer. Kassab tem como principal interlocutor no PMDB o vice-presidente eleito, Michel Temer, que representa uma ala contrária à de Quércia, no PMDB paulista. Nas últimas eleições, Quércia apoiou os candidatos do PSDB a presidente, José Serra, e a governador, Geraldo Alckmin.

No DEM, o clima é de maior calmaria em relação aos conflitos entre o presidente do partido, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), e Kassab, depois da interferência do ex-senador Jorge Bornhausen (SC). O DEM divulgou nota contrária à fusão após reunião da direção executiva.

Os kassabistas ainda apostam da bancada federal eleita em 2010 e trabalham para angariar apoio na futura reunião do diretório nacional e na convenção nacional do DEM, ainda não marcadas. "É preciso decidir com um grupo maior", disse um político do grupo do prefeito.

Kassab já vem se movimentando de olho na migração para o PMDB. Deixou de sustentar o lançamento da candidatura de Milton Leite, vereador do DEM, para a presidência da Câmara Municipal de São Paulo para apoiar o tucano José Police Neto.

O vereador Police já foi líder do governo na gestão Kassab e a presidência da casa seria uma prova de gratidão à condução das demandas do Executivo pelo tucano. Police é ainda da ala do ex-governador José Serra no PSDB, o que seria mais uma retribuição vinda do prefeito, dessa vez ao próprio Serra.

Vice de Serra na prefeitura entre 2005 e 2006, Kassab assumiu o comando do município em 2006 depois que Serra saiu para candidatar-se ao governo. Na disputa de 2008, Kassab saiu candidato à reeleição com apoio do então governador Serra, que ficou contra o colega de partido, o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, derrotado na corrida municipal.

Kassab já procura fazer um sucessor em 2012, de olho nas eleições de 2014, quando pretende disputar o governo paulista ou tentar o Senado. Entre os nomes que ventilados do DEM estão o de Afif Domingos, vice-governador eleito na chapa de Alckmin, e o de Rodrigo Garcia (foto), deputado estadual que inicia em 2011 o mandato na Câmara Federal.

A saída de Kassab ao PMDB não traria muitos problemas mesmo com a regra da fidelidade partidária em vigor. O prefeito deixaria a vaga para a sua vice, Alda Marco Antônio, já filiada ao PMDB. Também poderia levar vereadores do DEM ao PMDB sem dificuldade, se considerados os prazos na Justiça para o caso para chegar a julgamento.