Por muito pouco, João Paulo Rillo (PT), 31 anos, não foi eleito prefeito de São José do Rio Preto, em outubro do ano passado. Obteve 103.967 votos. Seu adversário Valdomiro Lopes (PSB) saiu vencedor com 109.145 votos. Em entrevista ao No Front, ele explica as razões de sua derrota. “O abuso do poder econômico, o terrorismo, a central de boatos que espalhava medo pela cidade, em especial a história de que eu perseguiria as igrejas evangélicas, e a compra de votos interferiram violentamente no resultado das eleições.”
Segundo João Paulo, o PT ingressou com recurso contra a expedição do diploma do prefeito Valdomiro por dois motivos: compra de sufrágios e abuso do poder econômico. O recurso encontra-se no TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Caso tivesse sido eleito, nos 100 primeiros dias, estaria delegando poderes para as secretarias mais estratégicas que precisam ter liberdade de ação, estabelecendo diálogo permanente com a população, em especial com a sociedade civil organizada, expondo as eventuais dificuldades e agregando segmentos importantes junto à administração, pois, ninguém governa sozinho. Um contraponto ao atual prefeito, que tem sido criticado por seus próprios auxiliares de ser centralizado.
Ocupando um cargo no Ministério do Turismo, João Paulo se prepara para disputar a eleição de deputado estadual, numa dobrada com o ex-prefeito Manoel Antunes. Leia abaixo a íntegra da entrevista.
No Front - João Paulo, depois das eleições municipais, você foi convidado para ocupar um cargo no Ministério do Turismo. Qual a sua função e que trabalho você desenvolve?
João Paulo Rillo - Faço assessoria especial do ministro. Eu o auxilio e o acompanho em audiências com deputados, senadores, prefeitos e secretários de Estado, colaboro com a coordenação do Ministério na implementação de uma política nacional de turismo. Ajudo a organizar e acompanho a agenda do ministro no Estado de São Paulo. Recentemente, fui indicado para representar o Ministério na SASF (Subchefia de Assuntos Federativos), um órgão ligado à Presidência da República que integra todos os ministérios.
No Front - O que ganha Rio Preto e região com você no Ministério? Já conseguiu fazer alguma coisa pela cidade ou pela região nesse período?
João Paulo - Muitas cidades da nossa região, inclusive Rio Preto, receberam investimentos do Ministério do Turismo nos últimos anos. O Ministério cumpre uma agenda nacional, portanto, não atende de maneira privilegiada nenhum Estado ou região. Contudo, tenho orientado e ajudado os prefeitos e agentes políticos da região que me procuram na elaboração dos projetos e pleitos de cada cidade. Em Rio Preto, abri diálogo com os organizadores do FIT (Festival Internacional de Teatro) e, se houver tempo e recurso, o Ministério irá participar desse evento pela primeira vez. Estamos estudando, juntamente com os organizadores, a possibilidade de estender o Festival para algumas cidades da região, o que justificaria ainda mais o caráter turístico do evento, divulgando e fortalecendo Rio Preto e região. Quero discutir com a Prefeitura de Rio Preto a pauta de reivindicações da Acirp (Associação Comercial e Empresarial), apresentada aos candidatos durante o processo eleitoral. Muitas reivindicações, como a revitalização do centro da cidade, a construção do centro de convenções, uma nova rodoviária e a estruturação do aeroporto, são temas perfeitamente possíveis de serem discutidos e encaminhados também pelo Ministério do Turismo. É preciso interesse do poder local para dar início a essa agenda.
No Front - O deputado Vadão Gomes anunciou uma verba de R$ 150 mil, que ele teria conseguido junto ao Ministério do Turismo, para o aniversário da cidade. Existe algum entrave entre você e a Prefeitura de Rio Preto para que o prefeito Valdomiro Lopes procurasse um deputado da base do governo para conseguir verba no Ministério?
João Paulo - De maneira alguma, estou à disposição e aberto ao diálogo a qualquer tempo. Nossas diferenças políticas são infinitamente menores que os interesses de nossa cidade. Além do mais, o governo Lula age de forma republicana e sabe muito bem diferenciar as disputas eleitorais das relações institucionais entre governo federal e prefeituras. Agora, há uma coisa que é natural: o prefeito Valdomiro conversa melhor com quem tem identificação, com quem se sente à vontade.
No Front - Na disputa para prefeito, você fez mais de 100 mil votos e por pouco não foi eleito. Como você avalia esse início de administração do prefeito Valdomiro Lopes? João Paulo - Todo início de governo é difícil.Torço para o prefeito Valdomiro conseguir consolidar sua equipe, cumprir as promessas feitas aos eleitores e administrar com honestidade e competência.
No Front - Caso tivesse sido eleito, o que estaria fazendo nos 100 primeiros dias de governo?
João Paulo - Estaria implementando nosso programa de governo, consolidando equipe, delegando poderes para as secretarias mais estratégicas que precisam ter liberdade de ação, estabelecendo diálogo permanente com a população, em especial com a sociedade civil organizada, expondo as eventuais dificuldades e agregando segmentos importantes junto à administração, pois, ninguém governa sozinho. Estreitaria os laços com o governo federal, pois, é lá onde estão os recursos para resolver os principais problemas da cidade, como a regularização dos loteamentos e a construção de uma nova rodoviária agregada ao centro de convenções. Buscaria recursos para fazer o contorno ferroviário e melhorar o transporte coletivo da cidade; formularia juntamente com os conselhos de direito e as instituições não-governamentais um plano de emancipação social para a população mais vulnerável, integrando cultura, esporte, educação e geração de emprego e renda e discutiria com os servidores da Saúde e o Conselho Municipal da Saúde a forma mais adequada para melhorar o atendimento e diminuir as filas nos postos. Nunca acreditei em rupturas drásticas e perseguições, isso só piora o quadro da saúde em Rio Preto. É necessário aproveitar as pessoas que entendem do riscado e pactuar a gestão, dividindo responsabilidades. Estabeleceria a mesa permanente de diálogo com o Sindicato dos Servidores, não apenas para discutir salário, mas principalmente o plano de cargos e carreira. Servidor confiante e satisfeito é sucesso administrativo na certa. Chamaria os auditores aprovados no concurso para fortalecer a Secretaria da Fazenda e aumentar a arrecadação do município, criando um plano de combate à sonegação. Bom, empolguei-me. A realidade objetiva da cidade é outra e eu não sou o prefeito. Cabe a mim ajudar no que for possível.
No Front - O PT elegeu Marco Rillo para a Câmara Municipal. O papel dele é ser oposição à atual administração?
João Paulo - Como filho e cidadão rio-pretense, tenho orgulho em tê-lo novamente como vereador em nossa cidade. Ele está no terceiro mandato e desconheço um único gesto ao longo de sua atuação parlamentar que tenha atrapalhado a administração. Tenho certeza de que dessa vez não será diferente. Será um vereador independente, combativo e responsável com a cidade. Apresentará bons projetos e fiscalizará com altivez e competência a administração.
No Front - Você é candidato a deputado estadual. Como avalia as eleições do ano que vem, já que os candidatos a deputado federal José Carlos Vaz de Lima, Rodrigo Garcia, Edinho Araújo e o próprio prefeito Valdomiro Lopes deverão apoiar outros nomes na disputa por uma vaga na Assembléia Legislativa?
João Paulo - Com naturalidade, estamos em campos opostos tanto no plano nacional como local. Defenderei a continuidade do projeto de desenvolvimento nacional implementado pelo governo Lula e uma mudança radical de gestão para o Estado de São Paulo. E eles defenderão o retorno dos neoliberais ao comando do País e a continuidade do caos estabelecido em São Paulo, que desmontou a educação pública e deu as costas às políticas sociais e de segurança. E temos nossas naturais diferenças político-ideológicas, sobretudo os valores da política e de ideologia.
No Front - Você fará dobrada com o ex-prefeito Manoel Antunes? A informação na cidade é de que ele estaria negociando seu ingresso no PV, partido em que teria mais chances de se eleger. Ainda assim haveria a dobrada?
João Paulo - Independentemente do partido que o professor Manoel estiver filiado, sendo ele candidato a deputado federal existirá uma dobrada natural entre nós, defendida espontaneamente por uma parcela significativa dos eleitores, que já demonstrou isso nas ruas. Gostaria muito que ele ingressasse no PT, seria uma honra tê-lo em nossas fileiras. Respeitarei, entretanto, qualquer decisão que tomar.
No Front - João Paulo Rillo e Manoel Antunes deverão se enfrentar na eleição municipal de 2012?
João Paulo - Meu maior patrimônio político não são os votos que obtive nas eleições que disputei na minha vida e sim as relações que construí ao longo dela. Minha relação com o professor Manoel é de respeito e de admiração, não tem espaço para deslealdade nem especulação. É uma relação madura e fraterna. Sou amigo do Manoel e acho legítimo seu sonho de voltar a ser prefeito de Rio Preto. Em 2012, conversaremos sobre isso com a maior lealdade e tranqüilidade possível. Garanto que estaremos juntos em Rio Preto e por Rio Preto.
No Front - João Paulo, olhando agora à distância, com a cabeça fria, por que você diria que não ganhou as eleições para a Prefeitura de Rio Preto, já que, faltando três dias para o segundo turno, as pesquisas indicavam sua vitória?
João Paulo - Muitas coisas aconteceram na última semana e, juntas, foram determinantes para o resultado. Acredito que poderíamos ter respondido a alguns ataques que sofremos durante o segundo turno e não o fizemos. Decidimos que não iríamos fazer uma campanha de baixo nível e isso foi um acerto. Não deveríamos mesmo ter atacado, apenas explicado algumas coisas que não ficaram suficientemente claras. Meu desempenho no último debate poderia ter sido melhor, não fosse o desgaste e o cansaço que já me abatia. E, obviamente, o abuso do poder econômico, o terrorismo, a central de boatos que espalhava medo pela cidade, em especial, a história de que eu perseguiria as igrejas evangélicas, e a compra de votos interferiram violentamente no resultado das eleições. Essa avaliação não é uma peça de ficção criada pelo PT. Boa parte da cidade sabe do que estou falando.
No Front - Logo no início dos trabalhos no Legislativo, seu pai, o vereador Marco Rillo, teria dito durante uma sessão que seus adversários pegaram pesado para levar as eleições municipais. Ele disse inclusive que teriam procurado sua ex-mulher para dar depoimento contra você na propaganda eleitoral. Em campanha eleitoral, vale tudo? Nesta, especialmente, foi um vale-tudo?
João Paulo - Para mim, não. Vale-tudo não ajuda no processo democrático. A disputa pode, sim, ter momentos de discussões mais acaloradas, que nunca devem chegar, entretanto, à falta de respeito pelo adversário e pela democracia. O Brasil e as pessoas pagam um preço muito caro por conta do vale-tudo.
No Front - O PT denunciou fraude nas últimas eleições municipais. Em que pé estão as investigações? Essas denúncias têm fundamento ou são coisas de quem não sabe aceitar a derrota?
João Paulo - O PT ingressou com recurso contra a expedição do diploma do prefeito Valdomiro por dois motivos: compra de sufrágios e abuso do poder econômico. O recurso encontra-se no TRE. São dezenas de denúncias de irregularidade no pleito. As mais comuns são de compra de votos das mais variadas formas: compra de voto direta (aquela em que o eleitor é abordado para deixar de votar num determinado candidato para votar em outro), a indireta (aquela que o eleitor não aceita votar em outro candidato que não o dele, mas por dinheiro aceita a não votar no pleito - a famosa abstenção). Tivemos ainda as denominadas “pesquisas qualis", que de pesquisa não tinha nada, em que o eleitor se dirigia até um determinado local ouvia propaganda terrorista contra mim e ainda levava R$ 40,00 para casa. Foi uma forma de compra de votos qualificada. Isso tudo está nas mãos da Justiça.
No Front - Um rio-pretense – o secretário-chefe da Casa Civil, do Estado de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira Filho - deverá ser o candidato a governador pelo PSDB. Em se confirmando a candidatura, como seria para você trabalhar contra um rio-pretense, já que o PT terá seu candidato? Aliás, o partido já tem um nome para ser o candidato a governador?
João Paulo - Quero registrar meu respeito à história política do secretário Aloysio. No entanto, se ele for mesmo o candidato do PSDB, não irei trabalhar contra um rio-pretense e sim a favor de um projeto político para o Estado de São Paulo, muito mais avançado e justo do que o projeto implementado pelo PSDB. Considero ainda que as relações políticas não devem ter como princípio o bairrismo eleitoral, mas os princípios e valores das idéias e ideais políticos. Em relação ao nome do PT para o governo do Estado, será definido, utilizando os meios democráticos praticados pelo PT, se necessário for. Não acredito que haverá prévias. Escolheremos o melhor nome para a disputa de maneira mais tranqüila do que na eleição de 2006. Espero.
No Front - Para encerrar, na época da campanha, você atingiu o ápice da visibilidade, como num pós-BBB, transformou-se numa celebridade. Era assediado por onde ia. E agora? Sente falta?
João Paulo - Essa coisa de se tornar celebridade não tem nada a ver com a política. Na maioria dos casos, a política não é vista com bons olhos pela maioria das pessoas e, mesmo sabendo disso, resolvi aceitar o desafio de ser candidato. Fico feliz que tanta gente tenha se identificado com as minhas idéias, isso é sinal de que muita gente ainda pode se aproximar da política, não necessariamente dos candidatos. Não me construí com mandato nem deixarei de fazer política por falta dele. Eu me construí como homem e agente político, militando na esquerda, na luta popular e ideológica, no combate à corrupção, ao abuso de poder e à concentração de renda. Esses são os valores que me guiam, essa crença me põe de pé todos os dias, e não a popularidade alcançada nas últimas eleições.